07/03/2013

O bibliotecário brasileiro despreza conscientemente o Código de Ética do CFB? [Novembro/2012]




No início do mês de outubro deste ano estive em uma Escola/Curso de Biblioteconomia em uma das capitais da região Nordeste do Brasil. Nessa oportunidade, proferi uma breve palestra sobre o ensino da ética profissional bibliotecária. O auditório contava com quase duzentos estudantes de bacharelado em Biblioteconomia. A plateia estava constituída por estudantes de todos os semestres, incluída a turma dos recentemente  ingressos. Dá para dizer que uma parte significativa dos presentes já teve a chance de ouvir falar sobre o Código de Ética do Conselho Federal de Biblioteconomia (CFB). Entretanto, nesse Curso não há uma disciplina específica sobre o tema e quando da colação de grau os formandos não prestam o juramento sugerido pelo CFB. Com isso, momentos importantes para a fixação de preceitos de ética profissional e valorização do Código de Ética do bibliotecário deixam de ser propiciados aos egressos dessa instituição. A certa altura da preleção, pedi para os presentes manifestarem-se levantando o braço quando tivessem lido o Código mais de uma vez. Ninguém se mexeu. Depois, pedi para que levantassem o braço aqueles que leram o Código ao menos uma vez. Houve uma única manifestação.

Dias antes de ir a essa instituição eu fiz uma busca no site de sua Biblioteca Universitária. Trata-se de uma universidade pública de médio para grande porte. Ao verificar as informações administrativas dessa Biblioteca, que exerce a coordenação de um sistema de bibliotecas, encontrei menção a sua missão e aos seus valores. Entre os seus valores pude ver que se inclui a Ética. Cliquei o mouse sobre o link “ética” e esse me remeteu ao Código de Ética do Servidor público federal.

Ao confrontar os dois momentos surgiu-me a dúvida ora transformada em título desta coluna:  o bibliotecário brasileiro despreza conscientemente o Código de Ética do CFB?

Por que em uma BU, mesmo existente como parte de uma Universidade Federal, composta como um sistema integrado por várias unidades e onde atuam dezenas de bibliotecários, esses bibliotecários não se posicionam como profissionais bibliotecários antes que como funcionários do Estado? Em que sentido eles veem que se identificar coletivamente através do site da Biblioteca como praticantes da Ética do servidor do Estado é mais valioso do que se identificar pela ética de sua profissão? São essas pessoas, de fato, crentes de que detém uma identidade profissional constituída a partir da academia? Será que essas pessoas veem o valor do que executam profissionalmente com tanta indiferença, que será mais valioso cair na vala comum da aceitação e enunciação de uma identidade profissional tão inexpressiva, quando comparada com aquela que é dada pelo seu diploma e sua carreira profissional? Será que essas pessoas não percebem que antes de serem funcionários estatais, somente ingressaram no serviço público através de um concurso que exigiu o título de bacharel em Biblioteconomia e o registro no Conselho Regional de Biblioteconomia?

De outro lado, será que de fato esses bibliotecários têm a consciência de que sua postura é de completo abandono dos ideais de sua profissão?

Houve um momento neste país, nos anos da década de 1990, em que a regulamentação de algumas carreiras profissionais foi objeto de ameaça. A tentativa governamental caminhava no sentido de desregulamentar as profissões e a de bibliotecário estava entre elas. Conselhos profissionais de várias categorias se mobilizaram e tal evento não se deu. Numa situação desse tipo, é provável que esses bibliotecários, por não se identificarem publicamente como bibliotecários aplaudissem uma intervenção dessa natureza. Entretanto, se isso ocorrer eles seriam meramente servidores públicos como outros quaisquer. Ao afirmar isso não pretendo dizer que os servidores públicos não são bem representados por esse Código de Ética. O que estou tomando para reflexão é o fato de que grande parte das ocupações no Serviço Público é realizada por pessoas cujo ingresso não se deu pelo perfil de uma profissão autônoma e regulamentada. Nesse caso seu Código de Ética é mesmo dado pelo vínculo: servidor público. Porém, no caso de pessoas cujo ingresso no serviço público deu-se pelo perfil de uma profissão autônoma e regulamentada é desarrazoado não se identificar pelo Código de Ética de sua profissão, quando de seu relacionamento com o público.  

Diante da situação exposta, não creio, imediatamente, que o bibliotecário brasileiro despreza conscientemente o Código de Ética do CFB. Credito esse tipo de acontecimento a alguma falha na formação que essa universidade está oferecendo aos seus estudantes de Biblioteconomia. Mas também suponho que há alguma leniência do próprio Conselho Regional de Biblioteconomia, da respectiva região, quanto ao alcance da fiscalização exercida sobre essa Biblioteca Universitária e seus bibliotecários. Em minha leitura a situação descrita vem em prejuízo da imagem profissional do bibliotecário e, por isso, pode afetar a dignidade profissional dessa categoria. 

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