03/12/2014

A PESQUISA EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO

A PESQUISA EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO[*]

Francisco das Chagas de Souza
Departamento de Ciência da Informação
Universidade Federal de Santa Catarina
Grupo de Pesquisa: Informação, Tecnologia e Sociedade – GrITS
Linha: Informação, educação, ética e representação de sociedade



            No mês passado, dia 13 de novembro, Manoel de Barros e seu corpo separaram-se. Em 1991, 27 de novembro, Vilém Flusser e seu corpo separaram-se. Em 1900, 25 de agosto, Friedrich Nietzsche e seu corpo também se separaram.
            Barros deixou seu corpo aos 97 anos de idade, após alguns dias de internação hospitalar. Flusser deixou seu corpo aos 71 anos de idade, num acidente automobilístico com morte imediata. Nietzsche, diferentemente dos dois anteriormente citados, por sofrer demência nos dez últimos de vida,  foi deixando o seu corpo aos poucos, só o entregando à natureza já próximo dos seus 56 anos de idade.
            Quem foram essas pessoas? O que fizeram como atividade que os torna lembrados? Uma das coisas a ligá-los é que falaram com distintas conotações de informação, ciência e comunicação. Também falaram de pesquisa. Nietzsche tratou da ciência em vários momentos de sua produção escrita, do sentido da pesquisa científica e no aforismo 348 de “A Gaia Ciência” caracterizou pessoas que cuidam de acervos de documentos.
            De acordo com Safranski, um dos biógrafos de Nietzsche, este reconheceu a finalidade da ciência, ao mirá-la no momento em que ela começa a ser reconhecida no contexto da atividade econômica. Ao tentar abordá-la ontologicamente, captou-a naquilo que mais a revela, isto é, metodologicamente, enxergando-a como processo e produto da instrumentalização industrial e da vida humana. É de Safranski o seguinte trecho:   
                              
Para o pensamento filosófico, no começo da era industrial, as dimensões duradouras do Ser, isto é, Natureza e História, começam pois a transformar-se numa espécie de máquina. A essas “máquinas”, pensam os otimistas entre os contemporâneos de Nietzsche, podemos confiar a produção da vida bem sucedida, sob o pressuposto, todavia, de que nos portemos conforme nossas funções. A transformação do “processo mundial” hegeliano em funcionamento mecânico e dispositivos industriais foi descoberta por Nietzsche, com fina sensibilidade, em seu território mais próximo, a ciência filológica. Formamos os jovens para os levar ao mercado  de trabalho científico, lá colocamos cada um diante de um tema e um probleminha pequeno para que ele o trabalhe diligentemente, o todo é uma fábrica científica; não sabemos para que o produto de diligência servem; em todo o caso, eles dão sustento ao seu produtor. Na descrição dessa situação, Nietzsche para em um momento e recorda seu uso linguístico: mas involuntariamente aparecem em nossos lábios as palavras “fábrica, mercado de trabalho, oferta, aproveitamento” – e todos esses auxiliares do egoísmo – quando queremos descrever a mais recente geração de intelectuais. (SAFRANSKI, p.110-111).


            Se considerarmos que toda a ciência é ciência pelo que manifesta, só podemos saber que ela é, quando conhecemos os protocolos, a comunicação, os textos escritos formalizados como relatórios e artigos do que, comumente, chama-se produção de ciência.
            Manoel de Barros, como incansável buscador de palavras para, a partir do encontrá-las, externar a sua própria subjetividade, distingue informação de poesia. Para ele, informação por ser instrumento de divulgação é casca e isso a torna muito diferentemente de criação que, por ser o trabalho do poeta, é conteúdo. Ele afirma que:

O que progrediu no nosso milênio foi a informação. A poesia está no lugar de quando Homero, de quando Shakespeare. Poesia não depende de informação. Informação não aumenta nem diminui a poesia. [...] Onde a palavra poética chega a informação não alcança. Poesia é a essência. Informação é casca. O poeta cria. A informação divulga. Há um lado do homem que precisa da informação para se cumprir. Há outro lado do homem que precisa da poesia para se completar. Porque a gente é incompleta. Porque a gente é uma falta. Informação preenche a necessidade de estar. Poesia preenche a necessidade de Ser. Enquanto a gente não virar robô, a poesia é necessária. Precisamos do feitiço das palavras e não da casca das palavras.  Manoel de Barros - Série Encontros, Azougue Editorial (p. 157)

            Vilém Flusser, no ensaio Nosso Saber inserido no livro Pós-história (1983), vê a ciência como a extinção da verdadeira sabedoria. A verdadeira sabedoria vem da profundidade do ser humano e, por isso, é carregada de valor. A ciência destrói os valores. Tende a ser estéril. Ela supera as explicações finais (que respondem às perguntas formuladas com a expressão “para que?”) e as explicações causais (que respondem às perguntas formuladas com a expressão “por que?”). E essa superação se externaliza pela construção de explicações formais (isto é, com perguntas formuladas com o termo “como?”). Em torno do termo “como” se faz a produção da ciência, de  onde vem a preocupação cada vez maior com a dimensão metodológica. Flusser diz que a ordem histórica de formulação das questões e das consequentes respostas, isto é, do que hoje se chama produção do conhecimento, foi essa: compreender a finalidade, compreender a causalidade e compreender a formalidade. Nesta última está a forma científica. (p. 41) . Flusser diz ainda mais:
Eis pois a situação do saber atualmente: sabemos incomparavelmente mais que as gerações precedentes. O universo do discurso da ciência vai-se amplificando e aprofundando. As nossas perguntas estão se tornando sempre mais férteis, e provocam sempre novas perguntas. As respostas que estamos recebendo a tais perguntas estão se tornando sempre menos satisfatórias, e o universo está se tornando sempre mais isento de valores e de causas. Todo saber extracientífico vai sendo desmascarado como ideológico, e a ciência nos emancipa de tais ideologias. E as nossas perguntas existenciais vão se revelando “más perguntas”. Não há mais espaço para a sabedoria. O saber progride absurdamente. O universo do discurso das ciências em expansão sem limites vai amputando suas dimensões valorativas e causais, e vai se tornando mais formal, vazio. Universo existencialmente insignificante. Isto é constatável pelo fato de não ser apenas universo inimaginável, mas universo que, quando imaginado, é falseado. A ciência nos diz que quando o procuramos imaginar, estamos recebendo mal suas mensagens. De modo que o saber científico se refere a um universo que não mais diz respeito ao mundo no qual vivemos concretamente. O saber científico se tornou absurdo. (p. 46)

            Para ficarmos nessas reflexões, para não alongarmos com outros olhares a trajetória visando fixar um ponto de partida para a nossa apreciação neste diálogo desta noite, sobre o que poderia ser pesquisa em Ciência da Informação, já nos parece bastante perceber que os filósofos referidos: Barros, Flusser e Nietzsche embora não desprezem a ciência como um dos  resultados da ação humana a veem de perspectivas que colocam o trabalho do cientista como subproduto da sabedoria. Sabedoria em Flusser não é o saber, pois o saber é ciência; sabedoria é a ciência transformada, interiorizada, assimilada; sabedoria é conhecimento. Em Barros, conhecimento é poesia; claramente a ciência é a informação dita por ele. Os homens precisam de poesia para serem (essência) e de informação para estarem (aparência). Informação é, meramente, instrumento, isto é, em sua linguagem, casca. Em Nietzsche, “ciência” e “fazer ciência” são produto e fabricação de produto. Cientistas, estudantes de ciência, iniciantes científicos, mestrandos, doutorandos e outros a eles assemelhados são peças de uma linha de produção que existe, meramente, porque há um mercado que assimila o resultado de sua atividade. Estão todos situados no espaço de uma formalização e, grande parte desses que nele estão não têm a menor noção do que fazem, pois meramente o fazem.
            Chegando neste ponto de nossa reflexão indagamos do que se trata a pesquisa em Ciência da Informação. O que nesta se fabrica? E como se fabrica? São essas as questões, flusserianamente, possíveis, isto é, por serem questões de forma uma vez  que são as questões se cabem sob a perspectiva metodológica, as questões relativas  ao fazer, as questões isentas de valores e de causas, isto é, são questões programáticas que, necessariamente, distanciam o ser humano e sua finalidade.
            Será que é isso mesmo o que temos a discutir? Será que neste momento em um país em que tudo está em questão, a nossa questão é continuar a discutir a razão instrumental? A recente disputa eleitoral para a escolha de Chefe de Estado e de Governo no Brasil evidenciou esses dois polos de questões: 1 - Porque e para quem há Estado, e 2 – Como o Estado deve atuar? Como não se trata de uma escolha com as características de “par” x “impar”, na medida em que na escala de uma nação, subdividida em várias construções culturais decorrentes das origens e vivências das populações aqui estabelecidas, os dois polos se interagem, se integram por consensos e conflitos contínuos, em que finalidades e causas não podem ser simplesmente desprezadas em prol das formas.
            Esse mesmo raciocínio, de não se tratar de uma escolha com as características de “par” x “impar”,  vale para esta discussão. Desde os anos medianos da década de 1960 uma avassaladora concepção formalista de informação e usuário de informação invadiu o espaço das práticas bibliotecárias brasileiras dantes reconhecido pela predominância da presença de biblioteca e leitor ou utilizador de coleções. O resultado dessa invasão é que as possíveis pesquisas sobre leitor e condições de leitura, com vieses psicológicos, históricos e sociológicos; sobre produção de cultura escrita e difusão de poesia, ficção, filosofia, etc., passaram a ser substituídos por pesquisas sobre usuário e uso de informação; gestão de recursos informacionais; economia e arquitetura de informação; tecnologia e organização automática da informação, etc. Ora, a pesquisa que não fora nem iniciada para o primeiro grupo temático ou mal começava a ser feita, não teve espaço para sua floração. No espaço científico brasileiro não se propiciou  ao menos que germinasse a semente da pesquisa em Biblioteconomia e das coisas da biblioteca. Coincidência ou não, os fatos políticos liderados pelo conservadorismo econômico aliado com o poder militar a eles identificados sufocaram o movimento que tenuemente se desenvolvia nas bibliotecas públicas e nas escolas, por força de uma presença dominante entre os/as estudantes de biblioteconomia dos anos 1950 e 1960 de candidatos provindos da área pedagógica.        
            O que se viu então foi que os setores de bibliotecas públicas e escolares foram os mais sufocados e afetados economicamente e, em consequência, com o esvaziamento de recursos, deu-se a fuga ou a não disponibilidade de formação e de profissionais para atuarem nestes setores. Testemunha disso hoje é a chamada lei da biblioteca escolar, a tentativa de criação de uma lei geral de biblioteca no Brasil e o minguado número de egressos de Cursos de Biblioteconomia, anualmente, no sistema presencial.
            Capitaneada pelo IBBD, por seu Curso de Mestrado em Ciência da Informação e por sua revista Ciência da Informação, a pesquisa em Ciência da Informação, foi imposta para atender juntamente a outros projetos à altura dos anos iniciais da década de 1970 à politização de um modernismo conservador. Isso colocava claramente a negação e a restrição de uma politização social. Impunha como alternativa o silêncio, a fuga de quem assim se portava ou sua assimilação aos bons salários e outros benefícios produzidos pela tecnocratização do serviço público em  atendimento às demandas de um setor industrial, pautado pelos referenciais estadunidenses.
            Assim, precisamos, parece-me, saber mais das origens dessa pesquisa em Ciência da Informação no Brasil, e saber mais da extensão de sua instrumentalidade. Saber mais sobre como ela evoluiu. Que temáticas constituiu? Quais dessas temáticas mais reúnem pesquisadores? Enfim, saber mais como funciona a fábrica da ciência da informação brasileira e qual o seu alcance? Ou melhor, como funciona essa fábrica de cascas? Tem ela o propósito de chegar a alguma essência? Também precisamos saber melhor sobre os prejuízos sociais que ela produziu.
            Há algum tempo, tento refletir sobre o que poderia fazer parte dessa fabricação da ciência da informação, sob uma perspectiva que atendesse à construção de uma explicação sobre uma possível essência que a informa, isto é, sobre seus fins e sobre as causas de sua existência.  Cheguei a uma percepção de cenários e usos de informação que expus por ocasião do XII ENANCIB (2011) no GT1, em texto intitulado: “Sociedade, informação, condições e cenários dos usos sociais da informação”. Ainda é muito pouco.
            Ao concluir aquele texto, cheguei ao seguinte:
[...] há um debate em aberto, continuamente em aberto, em torno dos conceitos de informação e sociedade. Este debate se impõe como parte de um movimento dialógico que envolve a todos na direção de uma resignificação do lugar do humano. Quando as pessoas humanas, também designadas indivíduos interagem é, aí, nesse momento de relações mútuas, que se estabelece a sociedade.
     Assim, o conceito de sociedade não está dotado da autonomia necessária para representar as populações de uma dada nação, com Estado constituído e com suas distintas comunidades, incluídos os profissionais da ciência, para ser tida como receptora de políticas de informação.
     Uma perspectiva surpreendente é que o conceito de sociedade, ainda que não possa ser tomado como sinônimo imediato do conceito de informação, naquilo que concerne ao campo da Ciência da Informação, [...]  tem tanta similaridade com aquele, quanto à essência própria, que se tornam ambos, numa imagem, representáveis na figura de uma moeda, as faces indistintas da mesma. Talvez uma imagem ainda mais representativa seja a de informação e de sociedade figurando-se como as páginas que constituem uma folha de papel, sem pauta e sem definição a priori de frente e de verso.
     Considerando essa perspectiva o que se chama de sociedade da informação não seria tão somente um conjunto de mundos humanos interagentes ou em relação pelo uso de conteúdos com fins econômicos e de conformação em torno da existência? E, em sendo assim, denominar tais mundos de sociedade da informação não seria uma forma de escamotear interesses de dominação e mando que, se dando pela relação dos contatos dialógicos de núcleos muito concentrados de poder, transformam as transações de máquinas em discursos que, no interesse majoritariamente econômico, dominam as relações humanas assimilando as pessoas a funções complementares ao mero, mas não menos significativo, funcionamento esterilizante das máquinas?

            A mim parece, neste momento brasileiro, que não é possível falar de pesquisa em Ciência da Informação, somente pelo viés da objetividade formal que o discurso da ciência tem como central, segundo a perspectiva de Flusser, que é a negação de valor ou finalidade, de causa ou origem de conteúdo humano e social. Não é sustentável, socialmente, tomar o nosso trabalho, sua condução e o envolvimento de aprendizes de pesquisa pela mera instalação de um processo que assimila a fábrica. Carece de sentido esse processo que pauta como finalidade a eleição tema, redação de  projetos, captação de recursos, cumprimento de protocolos de coleta, tratamento e análise de dados, geração de relatórios, produção de comunicações, artigos, TCCs, dissertações, teses, etc., mas nem sempre sendo capaz de ser compreendido pela sociedade toda.  Certamente, sendo incapaz de comunicar para uma pessoa muito simples, por exemplo, o mendigo que está na calçada da praça em que transitamos o sentido que nosso trabalho tem para a melhoria de sua vida. Se não podemos chegar a tal alcance, como podermos justificar  o bom uso dos tributos que essa pessoa como consumidora  paga ao estado ou a outro empregador, ou financiador de nossa fabricação?  
            Respondendo um pouco a esse tipo de preocupação, nós, em nosso Grupo de Pesquisas, nos importamos muito com a teoria fenomenológica, com a constituição do ser humano e do ser social, com a construção do ser social, com a cotidianidade, com a comunicação e interação de humanos, com o mundo vivido. Essa é a resposta possível que encontramos para tentar estar num mundo que não deve ver, ou mesmo não quer ver, a ciência apenas como método. Se isso acontecer, queremos entender como entendia Flusser, a ciência é crise, ela está na dimensão em que se perdeu o sentido do humano. (p. 47)
            Nos anos recentes nossas pesquisas abordam temas que buscam envolver as pessoas que com eles estão enlaçadas. Utilizam teorias iluminadoras desses temas, a partir de postura interdisciplinar. Adotam métodos que derivam dessas teorias e técnicas que se ajustam ao envolvimento daquelas pessoas que se entrelaçam com os temas que constituem o nosso programa de pesquisa. Das tantas dissertações produzidas na linha de que participo duas foram reconhecidas e premiadas com Prêmio ANCIB de 2011 e 2012. Acredito que isso ocorreu porque ao inserir a visão fenomenológica e a busca da dimensão humana, essas dissertações, seu modo de apresentar o objeto, conceito, teoria, método, procedimentos de trabalho, resultados e interpretação dos resultados,  sensibilizaram com seu teor, de ser mais que mera ciência,  aos avaliadores desse prêmio.
            Para finalizar, a companhia de nossos mestres filósofos e poetas, Manoel de Barros, Vilém Flusser e Friedrich Nietzsche tem sido inspiradora de nossos ensaios, em que dizer da realidade humana vem antes de dar forma ao vazio humano que tem  predominado no discurso da ciência da informação em nosso meio. 

Referências
FLUSSER, Vilém. Nosso saber. In: ____. Pós-história; vinte instantâneos e um modo de usar. São Paulo: Duas Cidades, 1983. P. 41-47.
MULLER, A. Eu sou o rascunho de um sonho. In: MULLER, A. (Org.) Manoel de Barros. Rio de Janeiro: Beco do Azougue, 2010.p. 40-171.  (Encontros).
NIETZSCHE, Friedrich. A gaia ciência. Lisboa: Relógio D’Àgua, 1998. 322 p.
SAFRANSKI, Rudiger.  NIETZSCHE: biografia de uma tragédia.  São Paulo: Geração Editorial, 2012. 363 p.
SOUZA, F. C. Sociedade, informação, condições e cenários dos usos sociais da informação. In: XII ENANCIB - Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação, 2011, Brasilia, DF. Anais do XII Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação. Brasilia: Thesaurus, 2011. v. 1. p. 122-136.
                                                 
Dissertações contempladas com Prêmio ANCIB.
ANO 2011
Daniella Pizarro. Ética profissional do bibliotecário atuante no segmento empresarial em Santa Catarina. 2010. Dissertação (Mestrado em Ciência da Informação) - Universidade Federal de Santa Catarina, Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. Orientador: Francisco das Chagas de Souza.
                                                                                               
ANO 2012
Ana Claudia Perpetuo de Oliveira da Silva. É preciso estar atento: a ética no pensamento expresso dos líderes de bibliotecas comunitárias. 2011. Dissertação (Mestrado em Ciência da Informação) - Universidade Federal de Santa Catarina, . Orientador: Francisco das Chagas de Souza.






[*] Conferência proferida em 02 de dezembro de 2014, na programação comemorativa dos 40 anos do Curso de Biblioteconomia da UFES, em Vitória – ES,  como parte do tema - "Diálogos em torno da pesquisa em Ciências Sociais e Ciência da Informação".  Conferencistas: Dr. Francisco das Chagas de Souza (UFSC) e Dra. Denise Meyrelles de Jesus (UFES)  - Mediador: Dr. José Alimateia de Aquino Ramos (UFES).


26/10/2014

Código de Ética do Bibliotecário: caminhos para uma construção democrática.

Código de Ética do Bibliotecário: caminhos para uma construção democrática.
Palestra apresentada  no dia 25 de outubro de 2014, no PAINEL: CIVILIZAÇÃO E BARBÁRIE SOB A MEDIAÇÃO DA ÉTICA PROFISSIONAL, realizado como parte do Seminário Regional de Bibliotecas Públicas e Escolares e de Ética Profissional, em Florianópolis, SC, promovido e executado pelo Sistema Conselho Federal de Biblioteconomia.

Francisco das Chagas de Souza
Departamento de Ciência da Informação (UFSC).
           
            Quero iniciar esta exposição observando os termos mais significativos  colocados em seu título: caminhos, construção e democracia. Isso me permite apreciar que há na parte inicial do título a menção a um artefato (o Código de Ética do Bibliotecário brasileiro) escorado na ideia do inacabamento, ao considerar que sua construção depende de prática democrática.  Penso que o inacabamento de algo, essencialmente, representa o que aparentemente melhor traduz a vida individual e social.
            De outro lado, caminho é sempre o que se pode abrir nos muros reais ou imaginários que se colocam à nossa frente. Mesmo quando fisicamente existam caminhos  construídos por outrem para os utilizarmos, quando nele ingressamos, e todas as vezes que nele ingressamos para a caminhada, não sabemos como a faremos: se seguros ou não;  se lépidos ou não; se conscientes do que surgirá nos momentos seguintes ou não. Provavelmente, nunca nos colocamos diante do caminho com a mesma segurança que revelamos após tê-los percorrido. Quer dizer, então, que caminhos seguros são passados e carregados de sentido para quem ao final da jornada já está seguro de que os trilhou. Não haverá, certamente, o retorno ao mesmo caminho, pois em cada caminhada o caminho é novo, com todos os desafios possíveis. A cada momento que segue a qualquer jornada serão novas as revelações que se nos manifestam.
            Assim, trilhar o caminho é um processo construtivo a exigir que nossas competências e habilidades sejam colocadas em tensão, a fim de que o tempo e espaço existentes como condicionantes desse processo sejam dominados por nossas forças, restritas aos nossos limites. Construir como um processo de disposição de partes segundo critério lógico, ou de acordo com projeto, está sujeito ao pensamento que antecipa um potencial de resultado, e este é melhor quando feito sob um regime de ação democrática. A democracia, como pensada por Sócrates, e descrita na República, de Platão, é o governo da liberdade dos indivíduos. É o governo em que todos têm a igualdade como o princípio fundamental de sua ação. Logo, uma  construção democrática é uma ação desenvolvida por iguais em um ambiente de liberdade.
            Quero, ainda, interpretar o título desta exposição, isto é, “Código de Ética do Bibliotecário: caminhos para uma construção democrática” como uma rememoração das circunstâncias, contexto ou mesmo caminho que foi empregado no final dos anos de 1950 para que os bibliotecários à época, com liberdade de movimentação fossem buscar onde possível,  ideias de como dar forma à FEBAB e instituir o primeiro Código de Ética do Bibliotecário brasileiro.
            Laura Russo, primeira presidente da FEBAB e primeira presidente do CFB concedeu entrevista à Revista Brasileira de Biblioteconomia e  Documentação (da FEBAB), v. 17, n. 1/2, p. 93-97, jan/jul. 1984, na qual diz do caminho novo que foi empregado para dar forma mais ampla à construção institucional da Biblioteconomia Brasileira, então pensada como a consolidação,  articulada pela FEBAB, de uma estrutura composta por uma rede de entidades representativas da profissão no Brasil (as associações regionais, que eram 6 em 1954). Em seus próprios termos, ela disse:
“Estando em Madrid, [...] recebemos do então presidente da APB uma credencial para representar os bibliotecários paulistas na 24ª. Sessão Anual da IFLA que se realizou em [...] outubro de 1957.  A partir daquela data, começamos a estudar a estrutura e atividades da IFLA, visando à preparação de uma tese, que seria apresentada ao II CBBD. Se fosse aprovada, seria fundada a Federação Brasileira de Associações de Bibliotecários.
Voltamos ao Brasil em 1958 e nos integramos ao grupo dos Bibliotecários paulistas, que tentavam conseguir a inclusão do Bibliotecário no Quadro dos Profissionais Liberais, exigência primeira para a regulamentação profissional, segundo o [...] Deputado Rogê Ferreira. [...] Em 4 de dezembro de 1958, fomos ao Rio de Janeiro [...] Pela manhã fomos à Câmara Federal para entregar o texto do Anteprojeto de regulamentação profissional, ao Deputado Rogê Ferreira. No período da tarde, daquele mesmo dia, tivemos a [...] emoção de vê-lo apresentar no plenário o projeto de número 4.770/58, que passou a ser seguido por ele e por todos os bibliotecários brasileiros. [...] Nesse fim de jornada, nosso patrono foi o Deputado Almino Affonso, cuja atuação foi decisiva para a aprovação final e até a promulgação da Lei 4.084, em 30 de junho de 1962.
Em dezembro do mesmo ano, apresentamos ao Ministério do Trabalho o anteprojeto de decreto para regulamentar a Lei. Ele foi retido pelo DASP, durante 2 anos, custando muito sacrifício a sua retirada daquele órgão, isto acontecendo, graças ao bom relacionamento que o Dr. Rogê Ferreira mantinha, ainda, com elementos do Ministério do Trabalho.” (p. p. 94-96)

            Depreendo do texto recém citado, que naquela época havia liberdade de movimentação, dando guarida ao esforço para a construção desejada de uma categoria profissional. Mas algumas ideias e apoios externos foram componentes acrescentados, sob a forma de um caminho precedente (a IFLA), de outro caminho (o Congresso brasileiro), de parceiros no caminho (Deputado Rogê Ferreira) e de obstáculos (o DASP).
            Simultaneamente aos esforços realizados para a obtenção da sanção da lei de regulamentação da profissão foi se constituindo um novo caminho, traduzido em um conjunto de ações que deram origem à FEBAB a qual se somava ao já existente CBBD. Na medida em que o projeto de lei tramitava, foi fundada a FEBAB em 1959 tendo sua primeira diretoria eleita em 1961; foi redigida a proposta de currículo mínimo para o Curso de Bacharelado em Biblioteconomia; foi implantado oficialmente o Bacharelado em Biblioteconomia no Brasil. Evidentemente, também foi se constituindo mais um caminho, o da elaboração do Código de Ética. Em seu processo de construção verifica-se a discussão no fórum que reunia  todos os bibliotecários à altura, isto é, o CBBD. Em 1961, no III CBBD, Laura Russo apresentou a comunicação intitulada “Deontologia e ética profissional”; em 1963, no IV CBBD, Voline Cardim apresentou a comunicação intitulada “Ética profissional; nova sugestão para os currículos das Escolas de Biblioteconomia e Documentação”; nesse mesmo evento, Laura Russo apresentou a comunicação intitulada “Código de ética do Bibliotecário Brasileiro”. César Castro em seu estudo “História da Biblioteconomia brasileira” ressalta que o anteprojeto do Código de Ética do Bibliotecário brasileiro foi analisado pelas associações profissionais  a fim de poder incorporar o pensamento de toda a categoria. Nesse sentido, a FEBAB enviou cópia do mesmo para todas as associações, escolas/cursos de Biblioteconomia e para alguns bibliotecários a fim de receber contribuições ao texto (p. 190-191). Em seguida, ainda segundo César Castro, o anteprojeto já com várias contribuições foi levado, em janeiro de 1962, à discussão na Assembleia Anual da FEBAB e em 1963 teve sua primeira aprovação por ocasião do IV CBBD (p. 192). Essa foi então a trajetória de construção do Código, num espaço e tempo em que a participação dos bibliotecários era desejada e provocada, respeitando-se o princípio democrático da liberdade, com o reconhecimento da igualdade dos bibliotecários de então. Esse Código ficou sob a gestão da FEBAB que o repassou ao âmbito do CFB, tão logo a regulamentação da Lei 4.084/62 foi efetivada pelo Decreto 56.725/65.
            De outra forma, interpreto o título desta exposição, isto é, “Código de Ética do Bibliotecário: caminhos para uma construção democrática” como um desejo atual de uma diretoria que ora comanda o Conselho no sentido de provocar a possível repetição do processo que foi realizado pela atuação integrada do CBBD e FEBAB, leito da construção democrática da primeira forma do Código de Ética. Logo após a implantação do CFB, já em 1966, o Código ao ser recebido para sua gestão sofreu a primeira modificação; depois em 1974; mais tarde em 1986 e a última modificação no texto ainda vigente é de 2002. Todas essas mudanças sofridas pelo Código, já realizadas no âmbito do CFB, padeceram de um processo cuja realização excluiu a condução democrática nos moldes aparentemente postos em prática na construção da sua primeira versão, de 1963. Tal circunstância, independentemente da ideologia que mobiliza as pessoas que participam da gestão, se subordina à ideologia totalitária que formata desde sua origem os Conselhos Profissionais no Brasil. Os Conselhos Profissionais, excluído o da OAB, por serem vinculados ao Ministério do Trabalho e Emprego, fruto de legislação que tem origem no primeiro governo de Vargas, pelo decreto 19.433, de 26 de novembro de 1930, reforçada pelo Decreto-Lei 968, de 13 de outubro de 1969, adensado pela Lei 6.036, de 1. de maio de 1974 e mantendo-se configurado pelo decreto 81.663, de 16 de maio de 1978, reproduzem um quadro jurídico anterior à Constituição hoje vigente no país, que é de 1988. Por esse provável motivo mantém estratégias de presença social assemelhadas a de entidades existentes no estado fascista, nazista e bolchevique, a se considerar a compreensão de Hannah Arendt sobre o ordenamento dos Estados politicamente totalitários, que diante da atual Constituição brasileira compõem um modelo que está superado em seu propósito.
            Esse contexto legal de sustentação dos Conselhos, já vencido politicamente, por força dos movimentos populares dos anos 1970 e 1980, ainda é o espelho em que se miram a maioria dos Códigos de Éticas dessas entidades para-governamentais. Uma expressão dessa postura, em relação ao Código de Ética do Bibliotecário está expressa na forma como em sua redação se prevêem as condições de sua modificação. Em vez de estar aberto para a apreciação e contribuição de todos os bibliotecários atuantes no Brasil,  no que toca à iniciativa das proposições, ele, ao contrário, está fechado a isso. Na redação da RESOLUÇÃO CFB nº  327/86, de 20 de agosto de 1986, a qual “aprova o Código de Ética Profissional do Bibliotecário”, vigente até o ano de 2002, se encontra em sua seção  VIII  (Modificação do Código), artigo 18, que Qualquer modificação deste Código somente pode ser feita pelo Conselho Federal de Biblioteconomia, mediante proposta de Conselho Regional ou de Conselheiro Federal”.  Na redação da RESOLUÇÃO CFB nº 42, de 11 de janeiro de 2002, a qual dispõe sobre o Código de Ética do Conselho Federal de Biblioteconomia em vigor, se encontra em sua seção VIII (Das disposições gerais), artigo 19,  que “Qualquer modificação deste Código somente poderá ser efetuada pelo CFB, nos termos das disposições legais, ouvidos os CRB”.  Essa disposição, instituída pelos dirigentes dessa  organização paraestatal, ou seja, o Conselho Federal de Biblioteconomia, limita aos conselheiros federais ou regionais a condução ou a iniciativa do processo modificatório. Isso aponta para uma ruptura do que foi o clima de construção democrática da versão inicial desse Código dada de 1959 a 1963.
            Não disponho de informação mais detalhada sobre os fundamentos de discursos divergentes ou de inconformidade situacional que certas lideranças bibliotecárias manifestaram ao longo do tempo, a começar por Laura Russo. Ela, conforme César Castro, (p. 184-185), se sentia cansada, magoada, desiludida nos anos 1964-1965 com o pouco reconhecimento que recebia em relação a todo o esforço que liderou para a conquista da legislação profissional. Mas, isso talvez possa ser indício de uma modalidade de atuação que o CFB, por sua origem social e política totalitária,  tenha desencadeado, a despeito do que pessoalmente as pessoas acreditem que estão construindo.
            Cecília Andreotti Atienza, entrevistada pela Revista Brasileira de Biblioteconomia e  Documentação, cujo teor foi publicado no v. 13, n. 1/2, p. 85-93, jan/jun. 1980, perguntada sobre:

A - Que mensagem você teria para transmitir aos bibliotecários sobre o trabalho e a atuação de um Representante no Conselho de Classe?  Respondeu:

Em 1972, fui eleita para integrar o CFB, onde permaneci durante seis longos anos. Apesar de ter sido uma experiência interessante, pois, de um lado, tive a oportunidade de oferecer inúmeros trabalhos para serem discutidos, modificados e aprovados, após a devida discussão por um Plenário consciente; por outro lado, ofereceu-me a oportunidade de conviver com colegas de todo o Brasil, muitos deles com uma bagagem profissional relevante. Apesar de todos esses fatos, que acrescentam valores em nossa experiência profissional, também houve o seu lado crucial. Unindo esses dois aspectos e juntando uma boa dose de otimismo e coragem, trouxe como resultado uma lição de aprendizado que não se ensina nas escolas (por melhor que seja  apresentada). Acredito que os problemas desagradáveis advieram pela falta de maturidade profissional da maioria dos elementos da classe bibliotecária.

B – Você poderia fundamentar objetivamente essa sua afirmação? Ela respondeu:

Justifico essa hipótese citando como exemplo o que ocorreu quando da tentativa de modificação da Lei 4.084/62.  O CFB, como todos os profissionais bibliotecários conscientes, vem sentindo, há muitos anos, a necessidade de se modificar a nossa Lei, pois ela deixou de atender aos objetivos principais da profissão, em decorrência do desenvolvimento.  Na minha opinião, acho que devem ser combatidos os hábitos arraigados da classe, como o de tecer críticas indiscriminadas que, por motivos ideológicos, ou falho conhecimento do assunto, se fazem aleatoriamente; já é tempo de superarmos uma das notas características das culturas subdesenvolvidas, que consiste numa atitude  hipercrítica, levado ao extremo patológico de autoflagelação. O que interessa, nos assuntos mais delicados, é a análise objetiva e serena dos fatos, a começar por suas raízes históricas. (p. 90-91)

            O que me parece destacável nessa longa resposta, está no trecho em que ela afirma:  “O CFB, como todos os profissionais bibliotecários conscientes” e no trecho de  arremate: “O que interessa, nos assuntos mais delicados, é a análise objetiva e serena dos fatos, a começar por suas raízes históricas”.
            Ora, direi, que significa CFB e bibliotecários conscientes? Aqui estão expressos, creio, de maneira a se interpretar como pessoas. O Conselho, um órgão para-governamental intruso na categoria profissional é tão pessoa de sentimento quanto o são  todos os bibliotecários e que sente como o sentem os bibliotecários a necessidade modificar a lei já tida como envelhecida entre 1972 e 1978, quando Atienza esteve na diretoria do CFB. Mas o que é essa Lei senão a explicitação muito densa do que é o Conselho, que por sua vez é parte da herança do que Vargas melhor apropriou do estado totalitário europeu: um órgão centralista, opressor dos próprios filiados, até por ser Estado, sem que seus sustentadores econômicos, mas também políticos, os bibliotecários nele registrados,  só o tomem por isso, ou seja, que ele existe para impor regras, normas e taxas sobre  cada um e seus pares, que as aceitam numa espécie de masoquismo. E ainda nessa resposta de Atienza qual seria o sentido possível para o trecho “O que interessa, nos assuntos mais delicados, é a análise objetiva e serena dos fatos, a começar por suas raízes históricas”. Que são “assuntos mais delicados?” E, o que seriam “suas raízes históricas”. Na época em que foi afirmado isso dizia respeito a que contexto? Ao contexto da ditadura militar então vigente? Para esse trecho, cabem algumas interpretações, que podem restar para outro debate.
            Evidentemente, como essas, há muitas questões que perpassam a história da institucionalização profissionalista da prática bibliotecária brasileira. Uma prática muito carregada de limitações autoimpostas, já preventivamente, para passar-se ao largo de compromissos políticos mais populares. Um código de ética como o ora  existente, claramente distante do contexto da afirmação livre e igualitária de compromisso das pessoas que compõem a categoria bibliotecária, formatado como um documento legal, bem distante de código de ética ou de conduta com o do modelo textual elaborado pelos bibliotecários dos Estados Unidos da América, ou Suiça, ou Itália, ou Armênia, dentre outros,  não representa o jeito livre e igualitário como as pessoas afirmariam sua responsabilidade adultamente, reflexivamente, assertivamente. Se, cada vez mais, a forma verbal pela qual se assume os compromissos pessoais individuais tem o caráter declaratório, por que não poderá ser a forma que também deve-se empregar para a modelagem ou expressão dos compromissos profissionais de indivíduos coletivos? A despeito de mudanças culturais mais identificadas aos grupos populacionais locais, as profissões são grupos internacionalizados em seus propósitos e isso há de ser referência para a ação de seus membros.
            A realidade da internacionalização vem mostrando que os códigos de orientação da atuação dos grupos ocupacionais aos poucos vêm deixando de ser  expressos normativamente. Aos poucos vêm perdendo sua veia deontológica e se assumem como códigos de conduta ou códigos de boas práticas, ainda quando mantém o nome código de ética. Também, passam a expor compromissos respaldados na Declaração Universal de Direitos Humanos. Além disso, passam a reconhecer que o público atendido por um grupo profissional não é um público único e que também os profissionais não são um profissional único. Isso é fruto, certamente, da influência da cientificização de procedimentos de trabalho, que contribui para a segmentação das práticas profissionais tradicionais em muitas práticas. Não percebo que um único código de ética pode mais responder a todos os dilemas de conduta que as práticas realizadas por uma categoria profissional impõem. Bibliotecários de distintas especialidades tendem a ter dilemas que resultam das relações particulares que se desenrolam em sua interação com usuários, empregadores e sociedade. No ano de 2010, por exemplo, nos EEUU, a Association for Library and Information Science Education (ALISE) criou as Ethical Guidelines for Library and Information Science Educators; no ano de 2012, a IFLA criou seu código, depois de 85 anos que permaneceu sem esse instrumento. Ao que parece, todas as iniciativas de teor caminham no sentido da produção de textos declaratórios de compromissos e não de textos normativos que se impõem a potenciais indisciplinados e negligentes. A tendência é de rompimento de um ciclo de infantilização ou submissão que os códigos deontológicos, apropriados pelo pensamento totalitário, não mais conseguem impor.
            Para concluir, entendo que a busca pela construção de um código por via democrática implica em certas atitudes que as pessoas que constituem a atual diretoria do CFB podem decidir tomar, pensar sobre elas, envolver a FEBAB, a ANCIB, a ABECIN, a ABRAINFO e outras entidades que considerem convenientes, de modo que os ideais de liberdade e igualdade sugeridos no título desta palestra se transformem em prática real.

FONTES:
ARENDT, Hannah. Origens do totalitarismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2012. 825 p.
CASTRO, César Augusto. Brasília: Thesaurus, 2000. 287 p.
PLATÃO. A república. São Paulo: Martin Claret, 2014. 319 p.

17/10/2014

A ética no tratamento, organização e representação da informação.

III SINFORGEDS, 2014 – Fortaleza, Ceará.
Palestra realizada em 18 de setembro de 2014

A ética no tratamento, organização e representação da informação.

Francisco das Chagas de Souza
Departamento de Ciência da Informação - UFSC


            Inicio esta palestra com a proposição de que se pode traduzir o termo ética pela ideia de que ele quer significar valor, atitude e comportamento de pessoas humanas que enxergam outras pessoas humanas e todos os seres sencientes em senso de convergência na construção da realidade (BERGER; LUCKMANN, 2005). Faço isso a fim de situar o teor do que compreendi como a razão para ser convidado a participar neste impar evento. Entendo que valor, atitude e comportamento só adquirem sentido quando se desenvolvem ações visando a resultados e constituindo meios e tendo destinatários, ou seja, quando as ações praticadas têm como finalidade atender expectativas de outrem, demandante dos resultados produzidos pela execução dessas ações. Eu me valho aqui do entendimento de que ao pensar acerca de circunstâncias concretas se pode tratar valor, atitude e comportamento como algo que não é absolutamente autônomo, acima das pessoas, mas tendo origem, sendo determinado e determinante das relações interpessoais (ANGELUCCI et al., 2008; FEREZ; CHAUI, 1996; GOERGEN, 2005;; MENESES; NIETZSCHE, 2000; NIETZSCHE, 2011; SIMÕES, 2009), posto que resultante de avaliação ou escolha.
             Quero dizer com esse entendimento inicialmente exposto, que vejo a ética como um feixe de saberes que dá base para refletir-se sobre a ação e a convivência humana. Esse feixe de saberes pode ser bem ou mal compreendido pelas pessoas. Daí pode-se formar a percepção de que certas pessoas agem a partir de certos valores e expressam certas atitudes e comportamentos que se consumam no que se chama de boa conduta em determinadas circunstâncias ou de má conduta em outras. E uma ou outra coisa se dá na proporção em que o reconhecido praticante de boa conduta vela pela produção de beneficência às outras pessoas com quem interage nas relações humanas e sociais. Uma conduta contrária, que espraia a maleficência está expressa nos comportamentos e atitudes de pessoas que tratam as outras pessoas como meras coisas ou até não coisas. Enxergar pessoas como meras coisas é atitude semelhante à seguida nos processos da indústria de transformação empregados desde a primeira revolução industrial, iniciada por meados do século XVIII, para tratar do ambiente natural, como mera fonte de matérias primas.
            Extrai-se do já afirmado que valor, atitude e comportamento de pessoas são abstrações por elas concebidas e traduzidas em condutas, tanto em âmbito pessoal quanto profissional. Tomado como marco, pode-se a partir dele fazer-se o esforço devido para se avaliar as ações que se manifestam nas relações de umas pessoas para com as outras e para com seu contexto vivencial.
            O tema para mim dado a abordar apresenta-se como objeto constituído por  três modalidades de ação: o tratamento, a organização e a representação. Essas ações dar-se-iam sobre a informação. Sobre ela agiria a prática ética, isto é, sobre a informação seria exteriorizada a conduta desempenhada por uma pessoa, coautora e operadora de um conhecimento singular, ou seja, o conhecimento expresso como domínio de teoria e técnicas próprias, historicamente desenvolvidas, aplicadas e ensinadas como as mais adequadas para o cumprimento dessas ações. Na relação que se estabelecerá objetivamente com o interlocutor, demandante da informação, tratamento, organização e representação da mesma são as ações executadas que lhe permitem receber o atendimento possível. É, portanto, na feitura dessas ações, na relação que se estabelece para e durante o seu desenrolar que entra a ética. Essa expressão, entra a ética, foi dita por Umberto Eco em seu debate com Carlo Maria Martini, quando expôs que na relação com outro, duas pessoas humanas se colocam em mútua locução. Por uma extensão da reflexão, pode-se identificar que há tratamento, organização e representação da informação porque outras pessoas (um eu diverso no espaço ou no tempo) estarão na ponta final da execução das ações como beneficiário das práticas executadas. Estará lá o outro referido pelo Umberto Eco (ECO; MARTINI, 2000), o alter ego, muito melhor percebido e explicitado por Emanuel Levinas (1988). É esse outro humano, é para esse outro, que existe como demandante desse cuidado, que se dirigem as ações de tratamento, organização e representação da informação.
            Antes de prosseguir no exame do para quem o objeto informação sofre as ações de tratamento, organização e representação, quero analisar um pouco esse mesmo objeto, colocando a questão fundamental: O que é a informação?  Começo por tomar uns poucos traços que expõem a fenomenologia da informação no mundo atual, algumas de suas implicações e até mesmo me aventurarei a refletir sobre a razão da preocupação que fica a parecer cada dia mais premente de sobre a qual falar.
            Encontro em Derrida (1999) em texto no qual está transcrita conferência por ele  proferida em abril de 1983, como aula inaugural na Universidade de Cornell (Nova Iorque), a propósito de refletir sobre o lugar da universidade na sociedade, um conceito de informação que me parece instigante. Informação, numa perspectiva de modernidade técnica, é “a estocagem, o arquivamento e a comunicação mais econômica, mais rápida e mais clara (unívoca) das notícias. [...] A informação não informa somente fornecendo um conteúdo informativo, ela dá forma [...]. Ela instala o homem em uma forma que lhe permita assegurar seu domínio na terra e além da terra”.  (p. 145-146)
            Mas para a reflexão que aqui desenvolvo vou comungar com outro olhar que me parece auxiliar num melhor exame do tema que ora trato. Trago o que extraio do pensamento de Vilém Flusser (2007). Para ele, a informação é uma “não coisa”, que notoriamente vai tomando o lugar das coisas. Ela é não coisa, no sentido dado por esse filósofo contemporâneo, na medida em que se pode considerar que não se come informação, não se veste informação, não se calça informação; a informação não banha os corpos, nem os transporta, muito menos é alimento sólido ou líquido que sacia sua fome e sede. Mas, entretanto, não pode dizer-se que a informação nada é, nem que deixa de ser um objeto. Como um bem ou objeto que está presente no mundo humanamente conhecido, nos discursos socialmente construídos, ela perpassa a mente humana, está em seu pensamento e compõe todas as coisas e também as não coisas. Ela tem essa condição, por que coisas ou não coisas, quase todas, receberam processamento racional, dirigido por um programa, isto é, um modelo que prevê a sua elaboração. Por ser não coisa, a informação não é um hardware, não é o carro, nem o avião, não é o balde de zinco que cai no barranco e menos ainda o bastão com que o policial espanca a multidão enfurecida. Então, com mais evidência, a informação talvez seja ou corresponda a um Programa como dirá Flusser (1983). Ela é, por isso, um software, uma codificação ou uma simbologia; em certos termos é, portanto, representação de coisas.
            Chega-se, assim, à percepção de que a informação é a representação de coisas, porque só existe, enquanto simbologia, por exemplo, como: o fonema, a letra, o algarismo, qualquer ícone, etc., que em si não é mastigável, triturável, apreensível manualmente, sujeito a diluição física ou transformação química, nem a degeneração biológica. Ela é uma emanação de nossos pensamentos e construtora de nossos pensamentos ou ainda, dialogando-se com Flusser (2004), o meio pelo qual nossa mente concebe coisas e as produz com uso da natureza (a começar pelo cérebro humano) como fonte de matéria prima, fazendo então dessas coisas detritos de nossa mente.
            Sua potencialização econômica, a irrecusabilidade de sua manifestação, a ampliação de seu volume e de seu alcance como saber, vai transformá-la em nova indústria em que a matéria prima é de outra ordem. Virtualmente, essa matéria prima é o cérebro do corpo humano, é a capacidade humana de pensar, de calcular, de refletir, de processar a partir das sensações e dos neurônios sua continua ampliação em volume e complexidade. Cada vez mais, cada dia mais, uma cadeia produtiva de não coisas vai acumulando um volume trilionário de resultados econômicos e financeiros: a indústria de software, a indústria de jogos eletrônicos, etc. tem ampliado o número de postos de trabalho direto ou paralelo e exigido a contínua e cada dia mais volumosa busca de fontes de energia, sem o que estagnará ou reduzirá os seus movimentos.
            A título de subsídio para que se possa avançar nesta reflexão, pode-se identificar a existência de várias fontes de dados que, como fontes, são  coisas que exibem não coisas, para reforçar e demonstrar como a não coisa informação tem forte impacto na existência da humanidade atual. O site Worldometers (http://www.worldometers.info/pt/)  mostrava alguns indicadores (às 20h15min de 22 de agosto último) que expressam o crescimento contínuo do volume de unidades de produtos de informação em contraste com produções coisais, cujo ritmo tende a não manter a mesma dinâmica de anos passados. No quadro simplificado que está abaixo pode ver-se que dentre os vários tópicos que constituem essa fonte há um rol de coisas e não coisas que permite contrastar o que aqui se diz. Os itens destacados com asterisco são claramente coisas e têm um volume de produção inferior aos itens representativos de não coisas.

Sociedade, Media, Governo, Economia e Energia
Total de unidades
Item
1.597.380

Livros publicados este ano *

424.328.409
Jornais a circularem hoje *
554.767
Televisores vendidos hoje no mundo *
4.325.824
Telemóveis vendidos hoje no mundo *
$ 157.398.910
Dinheiro gasto com videojogos hoje
2.956.993.200
Utilizadores de Internet no mundo
176.823.841.854
Emails enviados hoje
3.024.373
Mensagens colocadas em Blog's hoje
550.967.309
Tweets enviados hoje
3.303.531.413
Pesquisas no Google hoje
44.378.078
90.118.625
179.834.820
8.184.114.387
4.206.985.776
340.834.060
Energia usada hoje (em MWh)
72.939.389
Petróleo extraído hoje (em barris) *
Captado em 22/08/2014, às 20h15min em: Worldometers (http://www.worldometers.info/pt/)

            Vê-se, então, que coisas e não coisas são bens econômicos que transitam em um mundo vivido, que atingem nossos sentidos, que nos mobilizam concretamente, como dirão Alfred Schutz e Thomas Luckmann (2003), Alfred Schutz (2012)  e outros fenomenologistas. Portanto, essas coisas e essas não coisas compõem mercadorias que estão alimentando o progresso material das sociedades a partir do agir econômico. As indústrias que as processam e os consumidores que as adquirem e as utilizam estão, supostamente, em diálogo corrente mediado pela mútua confiança. Certamente, ambos para fazerem desse mercado um feixe de ações de compra, venda, uso e manutenção têm de estar mutuamente convencidos de que seus valores, atitudes e comportamentos são os melhores possíveis. De um lado, os que fabricam o  produto correto, reparam corretamente um equipamento, orientam corretamente seu uso, de outro lado, os que  compram e usam o produto correto, sendo esse correto correspondente à conformidade de seus interesses, desejos ou necessidades. Isso, em si, dá forma a dois campos em mútua operação. Então, vê-se aqui a razão importante sobre a qual se firma um movimento internacional do setor empresarial no sentido de tentar expor e sustentar um discurso de ética empresarial. O momento em que isso começa a acontecer, de acordo com Bannwart Júnior; Souza (2010) é nos anos da década de 1970. Dizem: “A partir dos anos 70 nos Estados Unidos surge a chamada ética dos negócios, que impulsiona a discussão e o aparecimento da ética empresarial na América Latina em 1980 e no oriente após a década de 1990”.
            Para mim, parece que há uma grande coincidência temporal entre esse esforço das grandes corporações em se determinarem por mostrarem-se boas, sérias, responsáveis, honestas e solidárias para com seus pares e clientes e a repercussão do conceito de responsabilidade social.         
            Isso de que falo traduz um movimento de construção de representação de ideias. Falo da produção contínua de não coisas, de informação, de discursos. Discursos, sob o crivo de Vilém Flusser (1983), são recursos para a produção de distanciamento entre as pessoas em contraste com diálogos; diálogos corresponderiam à circunstância em que pessoas estão corporalmente, fisicamente, diante das outras trocando mensagens em presença num mesmo espaço. Dizer-se responsável, através da formalização de vários instrumentos escritos ou videofilmados de conteúdo deontológico, de recursos de publicidade e propaganda, como é feito por governos e empresas, tem uma distância muito grande da circunstância em que pessoas estão lado a lado, corporalmente, ombreando junto visando à resolução de uma questão. Dispor de um serviço de mensagens gravadas, de um manual de orientação ao uso, de um canal de FAQs é muito distinto do atendimento presencial, em que as dúvidas, ou as queixas e sugestões são expostas para outra pessoa com quem se está fisicamente diante num mesmo espaço físico. Nesse sentido, grande parte da relação hoje existente entre pessoas que vendem e buscam serviços são de modo tal que exprimem a colocação das pessoas na condição de coisa capaz de operar coisas e não coisas. Esse processo de coisificação das pessoas (tomadas como meros canais sonoros, auditivos ou táteis, além de visuais) sejam atendentes ou usuárias de um sistema é correlato a que eticidade?
            Tal processo como um exercício profissional, composto por ações de tratamento, organização e representação de dado objeto, assim como seus agentes,  comporiam  também um programa, seriam em bloco não coisa. Em sendo não coisa, em não havendo consciência humana durante a ação, por ser operação automática, presumiria a ocorrência da prática ética por ocasião da programação desse processo.
            Ao que me parece, existe a perpassar o presente mundo vivido uma razão fortemente desumanizadora. Nele se dá um movimento que, com todo o seu aparato ou aparelhagem material e verbal, está cada vez mais a comandar as pessoas. O discurso que nele está sintetizado tem a forma de expressões de caráter imperioso e carregado de violência. Ele se faz mandatório, e uma expressão que o tipifica é: o sistema caiu. O sistema esteja onde estiver, é um deus, o deus programa, o deus software, contra o qual não deverá haver rebelião, contestação e, quando em algum momento isso pode acontecer assombra o guardião das máquinas que dão funcionalidade ao sistema. E nesse momento, chama-se a segurança e não as pessoas que virão construir a solução, mas as que vêm reafirmar, também como coisas (funções) a ordem da ética possível  − a da submissão – que é a única permitida pelo programa. Há em anos recentes muitas evidências disso. Por exemplo, vejam-se os Estados Unidos da América e também os estados europeus em crise econômica produzida desde 2008 pelo segmento financeiro e pela conivência dos políticos (ANDERSON, 2014). Esses, ao provocarem instabilidade econômica para pequenos investidores e perda de emprego e renda para a classe trabalhadora, ao vê-las rebeladas, vão utilizar as forças de segurança e os aparatos judiciários dos respectivos Estados para fornecer garantias e sustentação ao sistema bancário e aos demais setores empresariais. Isso é exibido pela imprensa como imagens e textos sobre a repressão policial das manifestações dos trabalhadores rebelados na Grécia, Espanha, Portugal, etc. Outro claro exemplo disso foi dado no ano de 2013, no Brasil, como reação às jornadas populares de junho, pela mobilização das forças de segurança e aparato judiciário na repressão das manifestações realizadas em quase todo o território nacional, em defesa de direitos sociais.  
            Parece que essa prática, que se calça em um modelo de ética, não traduz para os membros da sociedade, os cidadãos, a beneficência que está presumida na ordem constitucional dos países. Entretanto, parece verdadeiro que esses cidadãos merecem ser tratados como pessoas até porque são, em última instância,  como consumidores e produtores de bens e riquezas ou como pagantes de tributos aos diferentes níveis de governo, os financiadores do Estado. Então, em reforço à desumanidade, há certas condutas praticadas no setor empresarial, além do financeiro, provavelmente em todos os seus ramos negociais e no setor governamental, pelos dirigentes e também pelos seus funcionários, que supõem não lidar com pessoas com quem caberia dialogar. Atuam com posturas cuja conduta final se afirma na  produção de discursos como comandos morais, ou como propaganda que são não coisa, porque se conformam ao nível de contradiálogo.
            Ao que se observa o quadro de defesa do discurso ético de certa maneira derivado do projeto corporativo, com a liderança de grandes companhias, a partir da segunda metade do século XX, vai se espraiando pelos demais segmentos. As empresas têm seus códigos de ética ou de denominação equivalente, os governos idem, as corporações profissionais que ainda não dispunham, quando tem sua organização mais recente, também o buscam. Porém, se orientam por um viés mais pragmático, guiado pela busca de resultados econômicos vantajosos e, assim, buscam e encontram um termo substituto ao termo “ética” e forjam uma expressão a cada dia mais em uso que é: “boas práticas”. Esse termo tem bom apelo público e parece capaz de orientar melhor os empregados das companhias que os adotam e os funcionários dos governos (SOUZA, 2014).
            Longe de estar imediatamente associada com a matriz discursiva da Filosofia moral, base milenar da discussão ética, a expressão “boas práticas” tem  clara origem no ambiente de produção industrial, sendo correlata com a ideia da normalização dos processos de trabalho. De modo geral, se encontra também em documentos de órgãos públicos de fiscalização e controle de qualidade como: Inmetro e Anvisa, e recentemente foi adotado pela FAPESP, isto é, como instrumento para a regulação das ações dos pesquisadores apoiados por essa agência de fomento à pesquisa científica, pertencente à estrutura administrativa do Governo do Estado de São Paulo (SOUZA, 2014).
            Ao falar sobre tudo isso nesta reflexão, quero acentuar que cada vez mais as pessoas parecem ser domesticadas com muita informação para renunciarem à  condição de pessoas. Elas cada dia mais são funções, isto é, cumprem papéis na sociedade e, em última instância, esses papéis são exercidos na sua condição de profissionais em que o papel social cola-se à pessoa em todo o seu tempo. Disso, se pode extrair a percepção de que suas condutas podem ser tomadas como os papéis que esses bons praticantes executam.
            Penso que para o bibliotecário e para outros profissionais da informação tratar, organizar e representar a informação é lidar com metainformação. É atuar na produção de uma não coisa a partir de uma não coisa anterior, que já é a condição da informação, sendo a primeira não coisa um texto como texto, uma imagem como tal, por exemplo. Há discursos como coisas  representadas, por exemplo, sobre ou de um terreno como um corpo físico, sobre ou de uma fruta, sobre ou de um carro, sobre ou de um computador, sobre ou de um livro como objeto físico, ou seja, discursos sobre ou de hardwares. Todos os discursos sobre e de coisas são não coisas. Aqui já se colocam problemas éticos importantes, do tipo: essa não coisa, esse discurso, representa a coisa original com fidelidade? Na transposição da coisa para a não coisa que vai ser tratada, organizada e representada por bibliotecários e outros   profissionais assegura-se que todas as propriedades fundamentais, as características básicas da coisa foi transferida? Quais compromissos “éticos” o narrador, o fotógrafo da coisa original, agora em estado de não coisa, levou em conta em sua ação? Entre o narrador e o fotógrafo há editores, designers, arte finalistas, etc., etc., então, como todos esses executaram suas boas práticas? Eles as executaram meramente como um bom desempenho técnico, tendo em vista assegurar seu próprio posto de trabalho ou realizaram algo para além deste limite? Há dezenas de questões para cada conteúdo, isto é, para a não coisa a ser tratada, organizada e representada que parecem levar à especulação e busca da totalidade. E quando não se dá conta dessa totalidade, sempre haverá erros e enganos, percebidos e cometidos por todos os que estão nessa cadeia de produção.
            Vi pouca literatura brasileira produzida nos anos recentes nas áreas de Biblioteconomia e da Ciência da Informação sobre tratamento, organização e representação da informação. Àquela que tive acesso nos últimos dias trata das questões atinentes ao tratamento, organização e representação da informação e parece caminhar no sentido de evocar boas práticas. Essas boas práticas podem ser agrupadas em duas vertentes. A primeira apela para a adoção de processos de catalogação menos sustentados em bom senso e melhor amparados por uma base científica (DAL EVEDOVE, 2011) ou sugere a superação de obsoletas metodologias utilizadas para tratamento da informação, pela apropriação das disponibilidades tecnológicas para tratamento da informação oferecidas pelos mecanismos de busca e indexação em repositórios eletrônicos (DZIEKANIAK, 2010) ou examina o enquadramento teórico do tratamento da informação (GUIMARÃES; FERREIRA; FREITAS, 2012). De outro lado, a outra vertente evoca aspectos mais centrados na ambiguidade como obstáculo ao bom tratamento e recuperação da Informação (SCHIESSL; BRÄSCHER, 2012) ou orienta-se para uma abordagem ética, em busca de compreender como essa noção é apropriada pelos profissionais e como se manifesta na pesquisa. Essa produção voltada à abordagem ética que identifico como segunda vertente traduz-se em dissertações e trabalhos apresentados em eventos de Ciência da Informação, e ocupa-se em apurar a aplicação da noção de garantia cultural na representação do conhecimento (GUIMARÃES; MILANI; PINHO, 2008; PINHO, 2006) ou nas  particularizações e não neutralidade da ação do profissional atuante na representação do conhecimento, o que poderia gerar desvios éticos em prejuízo do usuário (MILANI;  GUIMARÃES, 2011).
            Ao evocar a ciência como forma de superação das práticas obsoletas de tratamento da informação e ao considerar que tais práticas serão mais científicas ao deixar-se que os sistemas ou mecanismos eletrônicos garantirão essa qualidade a primeira vertente acima apontada se esmera na direção de uma boa prática que minimiza um aspecto importante ressaltado nos estudos da outra vertente, ou seja, a multiculturalidade evocada em outros trabalhos ou a garantia cultural para a diversidade de posturas e entendimentos carregados pelos usuários. Na primeira vertente há uma forte crença na garantia de excelência do tratamento da não coisa informação pelo abandono do olhar não coisificado do profissional, substituído por software. Mas não há que pensar sobre isso? Mesmo na condição de papel social o profissional não é mais relevante que o programa?  Ele é ainda pessoa e tem uma carga mais humana que os sistemas ou programas automáticos de tratamento. Na segunda vertente, há a lembrança da existência de uma potencial humanidade que é produzida em circunstâncias em que uma ou outra vez, os humanos envolvidos podem ser estimulados a agirem fora dos estritos papéis sociais de profissionais e usuários. Contudo, em tudo isso, há ainda uma questão a examinar. No primeiro caso, os profissionais bibliotecários ou de outra carreira ainda terão uma participação importante na interação entre a não coisa texto ou imagem e software, humanamente programado, para a produção de terminologias ou ontologias a serem empregadas entre a geração e o uso da não coisa informação.  
            Tudo isso, a mim parece muito desafiante, no sentido em que se evidencia cada vez mais a necessidade da ética ser tomada por todo bibliotecário e demais profissionais da informação como a diretriz básica a orientá-los na totalidade das ações que realizam das quais o tratamento, organização e representação da informação é uma etapa, também importante, mas não a mais importante se tomada como produtora de solução definitiva na localização dos conteúdos, isto é, das coisas.
            Sempre recordo, de um texto de Salvatore Settis (2000) que, ao falar do bibliófilo Aby Warburg, faz-me ver neste a figura do que seria o bom organizador da informação. Settis  trata da Biblioteca desse estudioso construída em Hamburgo e discorre sobre a trajetória da mesma, após sua morte. O que há de peculiar nessa biblioteca é que para Warburg essa coleção tinha a informação em contínuo tratamento e organização. Nela, os livros são tão móveis quanto o pensamento do usuário; Warburg adotava um princípio organizador da coleção denominado a “lei da boa vizinhança” dos itens do acervo.  
            Se o usuário pessoa humana for tomado como o centro de interesse de todo o trabalho de tratamento, organização e representação da informação não serão os métodos modernos, automáticos que de uma vez por todas localizarão toda a produção da não coisa informação.
            Assim, me parece que uma grande conquista no reforço à discussão sobre a necessidade da ética ser tomada por todo bibliotecário e demais profissionais da informação como a diretriz básica a orientá-los na totalidade das ações que realizam,  das quais o tratamento, organização e representação da informação é uma etapa foi, após 85 anos desde sua criação, a IFLA ter deliberado em 2012 sobre o teor seu Código de Ética para bibliotecários e outros profissionais da informação. E mais que isso, sua iniciativa de não considerá-lo impositivo aos grupos bibliotecários nacionais, mas apenas uma base para que tais grupos criem ou atualizem seus próprios códigos de ética. Por relevante que me parece, destaco a seguir, os tópicos mais importantes, desse Código.

PREÂMBULO – Nesta parte:

Apresenta recomendações éticas para a:
- orientação de bibliotecários e profissionais da informação,
- apreciação de Associações de Bibliotecas e
- apreciação de instituições afins quando criarem ou revisarem seus próprios códigos.

Afirma a função dos códigos de ética, que são:
- Estimular a reflexão sobre os princípios nos quais os bibliotecários e outros profissionais da informação podem formular políticas e lidar com dilemas;
- Melhorar a autoconsciência profissional;
- Oferecer transparência para os usuários e sociedade em geral

Diz que este código é oferecido na convicção de que:
- A Biblioteconomia é, em sua essência, uma atividade ética, incorporando alto valor agregado ao trabalho profissional com informações.
- A necessidade de compartilhar ideias e informação tornou-se mais importante com o aumento da complexidade da sociedade nos últimos séculos, fornecendo subsídios para as bibliotecas e para a prática da Biblioteconomia.
- O papel das instituições e profissionais, incluindo bibliotecas e bibliotecários, na sociedade moderna, é apoiar e aperfeiçoar o registro e a representação da informação e fornecer o acesso.
- Os serviços de informação de interesse social, cultural e de bem-estar econômico estão no coração da Biblioteconomia e, consequentemente, os bibliotecários têm  responsabilidade social.
- A ideia dos direitos humanos, particularmente como expressa a Declaração Universal dos Direitos Humanos das Nações Unidas (1948), requer de todos reconhecer e identificar a humanidade de todos os povos e respeitar seus direitos.

- O Artigo 19 estabelece expressamente o direito de “buscar, receber e transmitir informação e ideias em quaisquer mídias, independentemente de fronteiras”, fornecendo subsídios para as bibliotecas e para a prática moderna e progressiva da Biblioteconomia.
- A ênfase nos direitos de informação obriga os bibliotecários e outros profissionais da informação a desenvolverem um princípio crítico de lei relevante e a estarem preparados para aconselhar e, se apropriado, a defenderem a melhoria, bem como, a administração das leis.

Afirma que a IFLA reconhece que as especificidades dos códigos variarão necessariamente de acordo com as especificidades de cada sociedade, comunidade de prática ou comunidade virtual.

Afirma que a formulação dos códigos é uma função essencial de uma associação profissional, assim como as reflexões sobre a ética são uma necessidade para todos os profissionais.

Afirma que a IFLA recomenda o Código de Ética para todas as associações e instituições afiliadas e para bibliotecários individuais e profissionais da informação com este fim.  

Afirma que a IFLA compromete-se a revisar este código sempre que necessário.

As CLÁUSULAS em que declara as principais questões a merecerem cuidado ético por parte dos bibliotecários e outros profissionais da informação e as condutas a serem postas em prática são:

1. ACESSO A INFORMAÇÃO – nesse caso:

Assegurar o acesso à informação para todos
 
Rejeitar a negação e a restrição do acesso à informação e ideias, mais particularmente, por meio de censura,
 
Fazer todo esforço para oferecer acesso às suas coleções e serviços gratuitos aos usuários. Se são inevitáveis, mantê-las o mais acessível possível.
 
Promover e divulgar suas coleções e serviços para que seus usuários ou usuários potenciais estejam conscientes da sua existência e disponibilidade.

Buscar assegurar que websites de bibliotecas e outras instituições de informação obedeçam aos padrões internacionais de acessibilidade e que o acesso aos mesmos não esteja sujeito a barreiras.

2. RESPONSABILIDADES PARA COM OS INDIVÍDUOS E PARA A SOCIEDADE - nesse caso:  

Promover a inclusão e erradicar a discriminação, assegurando que o direito de acesso à informação não pode ser negado.

Respeitar línguas minoritárias de um país e seu direito de acesso à informação em seu próprio idioma.

→Organizar e apresentar conteúdo de uma maneira que permita um usuário autônomo de encontrar a informação que ele(a) necessita.
 
Oferecer serviços para aumentar as habilidades de leitura.

Promover o uso ético da informação.

Ajudar a eliminar plágio e outras formas de mau uso da informação.

Respeitar a proteção de menores, assegurando que não impacte no direito de informação dos adultos.


3. PRIVACIDADE, SIGILO E TRANSPARÊNCIA – nesse caso:  

Respeitar a privacidade pessoal e a proteção de dados pessoais.

Tomar medidas para assegurar que os dados do usuário não sejam compartilhados além da transação original.

Apoiar e atuar para a transparência a fim de que as atividades do governo, administração e negócios sejam operadas para o conhecimento do público geral.

Reconhecer que é de interesse público que a corrupção, má conduta e crime sejam expostos no que constitui quebra de confidencialidade pelos chamados 'informantes’.

4. ACESSO ABERTO E PROPRIEDADE INTELECTUAL - nesse caso:

Oferecer  o melhor acesso possível à informação, em qualquer mídia ou formato.

Apoiar os princípios de acesso aberto, código fonte aberto e licenças abertas.

Fornecer acesso justo, rápido, econômico e eficaz da informação aos usuários.

Defender exceções e limitações das restrições de copyright para bibliotecas.

Reconhecer o direito de propriedade intelectual dos autores e outros criadores, buscando assegurar que seus direitos sejam respeitados.

Procurar assegurar que o acesso não seja desnecessariamente impedido ou dificultado pelo modo de administração das leis da propriedade intelectual e que as licenças não sobreponham exceções para as bibliotecas contidas na legislação nacional.

Encorajar os governos a estabelecer um regime de propriedade intelectual que respeite apropriadamente o equilíbrio entre os detentores interessados do direito, os indivíduos e as instituições como as bibliotecas que os servem.

Defender que os termos de copyright possam ser limitados e que a informação que esteja em domínio público mantenha-se pública e gratuita.

5. NEUTRALIDADE, INTEGRIDADE PESSOAL E HABILIDADES PROFISSIONAIS – nesse caso:

Estar estritamente comprometidos com a neutralidade e postura imparcial em relação à coleção, acesso e serviço.
 
→ Definir e publicar suas políticas de seleção, organização, preservação, provisão e disseminação da informação.

Diferenciar suas convicções pessoais e suas obrigações profissionais.

Não promover interesses privados ou crenças pessoais em detrimento à neutralidade.

Ter o direito de livre fala no ambiente de trabalho, não infringindo o princípio de neutralidade relativo aos usuários.

Opor-se diretamente à corrupção que afeta a Biblioteconomia, tanto na fonte de recursos, quanto no suprimento de materiais de biblioteca, nomeações para cargos de biblioteca e administração de contratos de biblioteca e finanças.

Lutar pela excelência na profissão, pela manutenção e melhoria de seus conhecimentos e habilidades.

Promover uma reputação positiva da profissão.

6. RELAÇÃO COLEGA E EMPREGADOR/EMPREGADO – nesse caso:

Tratar uns aos outros com justiça e respeito.

Opor-se à discriminação de qualquer aspecto no emprego devido à idade, cidadania, crença política, condição física ou mental, gênero, situação matrimonial, origem, raça, religião ou orientação sexual.

Promover o pagamento e benefícios igualitários para homens e mulheres que ocupam serviços similares.

Compartilhar sua experiência profissional com os colegas.

Ajudar e guiar novos profissionais a entrar na comunidade profissional e a desenvolver suas habilidades.

Contribuir com atividades de sua associação profissional

Participar em pesquisas e publicações sobre assuntos profissionais.

Lutar para ganhar reputação e status baseado no seu profissionalismo e comportamento ético.

Não competir com colegas usando métodos injustos.

           
            Concluindo, o papel que o bibliotecário, sem esquecer que é humano, deverá exercer no tratamento, organização e representação da informação, depende da discussão que ele coletivamente pode promover em sua categoria profissional. Nesse sentido, a IFLA, através de seu Código de Ética, está fornecendo o melhor estímulo que uma entidade internacional de seu porte e com sua finalidade pode fazer.


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